Greve dos caminhoneiros provoca estragos na economia e deve dificultar retomada
Indicadores de maio mostram que a paralisação afetou todos os setores da economia
O desempenho dos serviços em maio mostra um dos principais danos na economia causados pela greve dos caminhoneiros. O setor, que tem peso importante na composição do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 3,8% no mês da paralisação. Economistas e o próprio governo já esperam menor crescimento do PIB no ano e retomada mais difícil.
A divulgação do índice do setor de serviços, nesta sexta-feira (13), fecha a recente safra de dados sobre o real impacto da paralisação. O conjunto revela que nenhum setor foi poupado e que a confiança de empresários e consumidores ficou abalada. Em maio, a produção industrial despencou 10,9% e as vendas no comércio recuaram 0,6%.
A greve durou 11 dias, entre 21 e 31 de maio. Os caminhoneiros bloquearam estradas e impediram a circulação até de itens essenciais, como alimentos, gás de cozinha e combustíveis. Serviços básicos, como transportes públicos, foram prejudicados. A principal reivindicação da categoria era a redução do preço do diesel, que foi atendida pelo governo federal.
O impacto da greve na economia ficará mais claro com os números de junho, porque será possível medir se as perdas de maio com a paralisação foram totalmente ou parcialmente recuperadas. Por ora, os indicadores antecedentes do mês passado, em especial os de confiança, mostram que nem todo o estrago vai ser compensado.
Diante de todo esse quadro, as projeções do crescimento do PIB de 2018 estão mais próximas de 1,5%. No início do ano, chegavam a 3%.
Veja abaixo os efeitos da greve:
Serviços tem queda intensa
O setor de serviços recuou 3,8% em maio na comparação com abril. Foi o resultado negativo mais intenso da série histórica, iniciada em janeiro de 2011.
O setor de serviços representa 70% da composição do PIB.
Houve recuo nas cinco atividades investigadas, com destaque para transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que apontou a retração mais intensa (-9,5%) da série histórica iniciada em janeiro de 2011.
Indústria desaba
Em maio, a indústria brasileira recuou 10,9% no mês na comparação com abril. Foi a maior queda do setor desde dezembro de 2008, quando a crise internacional prejudicou a indústria e derrubou a produção em 11,2%. O mês de maio mostrou também o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 2002.
Também afetada pela greve, a produção de veículos no Brasil caiu 15,3% em maio, frente ao mesmo período do ano passado, segundo a Anfavea. É a primeira queda neste tipo de comparação desde outubro de 2016, interrompendo uma sequência de 18 meses de altas.
A análise detalhada do desempenho do setor em maio mostrou que a indústria caiu em 14 dos 15 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Varejo piora
As vendas do comércio varejista brasileiro caíram 0,6% em maio na comparação com abril. Foi a primeira queda registrada neste ano. Todas as atividades do comércio tiveram perdas em maio, à exceção de hipermercados e supermercados.
O desempenho de maio praticamente anulou o avanço de 0,7% observado em abril.
Na passagem de abril para maio, as vendas recuaram em 15 das 27 unidades da Federação, com destaque para Santa Catarina e Rondônia (ambos com -4,2%), enquanto Amazonas (6%) e Roraima (3,2%) registraram os maiores aumentos nas vendas nessa comparação.
Investimento em queda
O investimento na economia brasileira recuou 11,3% em maio na comparação com abril, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
Somente o consumo de máquinas e equipamentos (bens de capital) caiu 14,6% no mês. No trimestre encerrado em maio, a formação bruta de capital fixo recuou 1,2%.
Piora na percepção de risco do Brasil
A resposta do governo para encerrar a greve foi mal vista pelo mercado. A paralisação dos caminhoneiros resultou na queda do presidente da Petrobras, Pedro Parente. Foi na gestão de Parente que a estatal definiu a política de preços para combustíveis.
Para analistas, ao ceder para os caminhoneiros, a imagem que ficou é que o governo voltou ceder a pressões políticas e perdeu credibilidade no mercado.
Com essa piora da visão, houve uma rodada de detorioração dos ativos brasileiros, uma clara sinalização de aumento de mau humor dos investidores com o país. No auge da turbulência, o dólar superou a barreira dos R$ 4 e a bolsa de valores perdeu o patamar de 70 mil pontos.
● dólar comercial: 3,4114
Confiança recua
A greve minou a melhora da confiança de empresários e consumidores. Sem confiança na economia, as empresas retardam investimentos e os brasileiros se sentem menos dispostos a consumir.
Os dados de confiança já se referem a junho e, portanto, já poderiam sinalizar alguma melhora do ambiente passado o auge da paralisação. No entanto, seguiram em queda, o que indica que a recuperação deve ser lenta.
No mês passado, a confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou 4,8 pontos, para 82,1 pontos, no menor nível desde agosto de 2017. A do empresário caiu 1,9 ponto, para 90,5, patamar mais baixo desde outubro de 2017.
Inflação dispara
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 1,26% em junho – em maio, marcou apenas 0,4%. Foi a maior taxa para o mês de junho desde 1995, quando ficou em 2,26%. E foi a primeira vez desde janeiro de 2016 que o índice fica acima de 1,%.
Com o resultado de junho, o IPCA acumulou alta de 2,6% no ano e de 4,39% em 12 meses.
Em junho, o grupo alimentação e bebidas foi o que mais influenciou o resultado mensal, sendo responsável por 0,50 ponto percentual da composição da taxa no mês. As principais altas ficaram com o leite longa vida (de 2,65% em maio para 15,63% em junho) e o frango inteiro (de -0,99% em maio para 8,02% em junho).